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Falar que faz terapia ainda é um tabu no meio corporativo. Pelo menos quatro executivos de alta gerência adeptos da prática e procurados pelo Valor preferiram não comentar o assunto. "Há uma certa idealização do mundo das grandes empresas, em que prevalece uma imagem de suposta fortaleza, como um universo habitado somente por seres à toda prova", explica o psicanalista Francisco de Holanda Marques Jr. "Portanto, qualquer sinal de vulnerabilidade não parece ser bem visto."

O executivo Maurício De Lázzari Barbosa, CEO da Bionexo, que investe na psicanálise há mais de dez anos, afirma que os que não conhecem a atividade acham que é destinada para quem sofre de alguma psicopatia- e por isso, o silêncio da maioria sobre o tema. "Na verdade, o analista vai apenas 'dar um espelho' para você se conhecer melhor", assegura.

Sócrates Melo, gerente da companhia de recursos humanos Randstad Professionals, afirma que há situações em que os gestores não conseguem conversar com superiores, subordinados ou mesmo com a família sobre as inseguranças que estão vivendo no escritório. "Para eles, se expor pode causar problemas ainda maiores", afirma. "Em função disso, uma terapia funciona como um suporte para se manterem firmes e seguirem comprometidos com as suas responsabilidades. O simples fato de poder falar, sem medo de julgamentos, já ajuda."

Há um preconceito sobre o tema pelo receio de se prejudicar na empresa por estar buscando ajuda, diz a psicóloga Maria Tereza Giordan Goés. "Os executivos temem o rótulo de 'fracos' ou 'despreparados'", afirma. "Ao mesmo tempo, não percebem que o trabalho é um dos aspectos da vida assim como o cuidado com a saúde, a família e o lazer."

"Evito falar, no meio profissional, há quanto tempo faço análise", diz uma executiva, que prefere não se identificar. Ela já liderou equipes com mais de 40 funcionários, ocupa cargos de direção há 15 anos e recorre ao terapeuta há mais de dez.

"Muitos não entendem que se trata de um projeto de longo prazo e tacham você de 'mal-resolvida'", justifica. "Para mim, a análise é como fazer um MBA da alma." Hoje, por conta de uma nova colocação profissional, ela dedica 70% do tempo da sessão a assuntos corporativos.

Para o psicanalista Bernardo Tanis, presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), é comum perguntar no consultório se o indivíduo consegue diferenciar a "pessoa física" da "jurídica". "Não é fácil discriminar os diferentes papéis que temos", diz. "É inegável que, em tempos de vacas magras, as pressões são maiores. Fusões, redução de custos e cortes de pessoal são palavras de ordem nesse cenário." Muitas vezes, o que a direção da companhia considera necessário em termos de resultados não é compatível com as nossas convicções pessoais, explica.

Para quem planeja experimentar algum tipo de terapia, a orientação é fazer um teste, aconselha Marcos Scalabrin, head de inteligência analítica da Tereos e fã de análise há anos. "Procure um profissional sério e vá aberto a novas experiências", diz ele, que adotou o recurso em uma situação limite, quando estava preocupado com o trabalho e não dormia bem. "A sensação de alívio depois de uma boa sessão é libertadora e nos ajuda a aproveitar melhor a vida."