PARA JORGE VAZQUEZ, PRESIDENTE DA RANDSTAD, CRISE BRASILEIRA INFLUENCIA VIÉS DE ENTENDIMENTO

Ser financeiramente saudável, utilizar tecnologia e de ponta e gozar de boa reputação: eis os três itens mais valorizados pelas empresas que atuam no Brasil quando o assunto é gestão da marca empregadora. Essa é a conclusão da edição 2018 do Employer Brand Research, pesquisa realizada pela consultoria Randstad com os 150 maiores empregadores do país. O estudo, que é feito em âmbito global e possibilita a estratificação por país ou região, confere também o ponto de vista do trabalhador, em um esforço que envolveu mais de 175 mil entrevistados no mundo e cerca de 4 mil localmente. A voz dos brasileiros foi clara ao destacar que, na conjuntura atual, eles estão mesmo de olho em questões mais básicas, como salário e benefícios, progressão de carreira e ambiente de trabalho, nessa ordem.

O Panorama Executivo esteve no evento de lançamento dos resultados da pesquisa e conversou com Jorge Vazquez, presidente da Randstad. Para ele, passada a fase mais aguda da crise brasileira, os interesses ganham novos contornos, evidenciando a importância de políticas consistentes de RH para a retenção dos talentos.

Panorama Executivo: A crise brasileira tem alterado a percepção dos profissionais do país quanto ao que eles valorizam em seus empregadores?

Jorge Vazquez: Em pesquisas anteriores, realizadas no auge da crise brasileira, é possível observar a valorização, por parte dos profissionais, de empresas financeiramente mais estáveis, que tivessem um propósito de inovação e, acima de tudo, gozassem de forte reputação. Veja que esses aspectos encontram paralelo entre o que as organizações apontam como prioridade no estudo atual. Ocorre que houve uma mudança por parte dos trabalhadores. Ética e reputação permanecem importantes, mas, por si só, já não bastam.



Panorama Executivo: E quais seriam agora os novos anseios?



Jorge Vazquez: Segundo o levantamento, em primeiro lugar os profissionais valorizam salário e benefícios. Depois, a atenção vai para as possibilidades de progressão na carreira. Já o terceiro ponto destacado é a qualidade do ambiente de trabalho. Desse contexto, podemos inferir que o interesse vai na direção das empresas que dispõem de políticas claras de gestão de pessoas, com benefícios bem definidos e um plano de carreira lógico. Ou seja, sem políticas consistentes de RH, uma marca empregadora não retém talentos.



Panorama Executivo: De acordo com a pesquisa, quais os principais motivos que levam os profissionais a deixar um emprego?



Jorge Vazquez: A limitação em termos de progressão de carreira e salários baixos representam os principais motivos de desistência entre os profissionais. A instabilidade financeira da organização e a falta de reconhecimento e de recompensas são outros fatores apontados. Desafios insuficientes também estão entre as causas que levam as pessoas a deixar o empregador.



Panorama Executivo: Para as empresas, quais os benefícios da mescla de gerações, da convivência entre estagiários mais jovens e aqueles acima dos 40 anos?



Luiz Copolla: Há uma troca interessante. Com mais bagagem de vida, os mais velhos costumam demonstrar maior facilidade de integração e de adaptação às regras e políticas do ambiente corporativo. Dessa forma, acabam até contribuindo para o entrosamento dos mais novos. Já esses apresentam maior familiaridade com as novas tecnologias, estando aptos a promover a troca de conhecimento com os colegas mais maduros.



Panorama Executivo: Para os mais velhos, voltar aos bancos escolares e empreender um estágio pode significar a primeira etapa de um recomeço?



Luiz Copolla: Com certeza. Trata-se da construção de uma nova carreira, com menos ansiedade e mais maturidade e foco. Os objetivos ganham assertividade, e surge espaço para a preocupação de deixar um legado.



Panorama Executivo: Como se explica que os três aspectos mais valorizados pelos profissionais ocupem, respectivamente, a quarta, a sexta e a sétima posição entre o que as empresas valorizam em sua oferta de valor?



Jorge Vazquez: Eu atribuiria este fenômeno um pouco à crise também, porque as pessoas se voltam a questões mais básicas e diretamente relacionadas às suas possibilidades de evolução profissional. De todo modo, é interessante notar que as três primeiras colocadas na edição atual – P&G, Nestlé e Samsung – são reconhecidas por seus empregados e pelo mercado por se destacarem também nos quesitos valorados pelas organizações – estabilidade financeira, uso de tecnologia de ponta e reputação.