Aos 27 anos, Marcella Marques teve que passar por uma readaptação profissional, após sair de um emprego e ingressar numa nova companhia. Ela faz parte de um grupo de 34% de brasileiros que tiveram alguma mudança em suas carreiras, no primeiro semestre do ano, segundo uma pesquisa feita pela Randstad, fornecedora global de soluções em Recursos Humanos. O índice pôs o país em quarto lugar, entre 34 nações, num ranking sobre mobilidade no trabalho. Foram consideradas trocas de empresa, de função ou de ambas.

— Eu trabalhava numa empresa de refrigeração, que me mandou embora em fevereiro deste ano. Fui contratada agora por outra, no mesmo segmento. Também desempenho a mesma função, de vendedora. Mas tive que me adaptar ao lugar, às novas pessoas — conta ela.

Em cada país retratado na pesquisa, foram entrevistados, ao menos, 400 profissionais, com idades entre 18 e 65 anos e que trabalham, no mínimo, 24 horas semanais para algum empregador. Como na vida de Marcella, a maioria das mudanças profissionais para os brasileiros ocorreu devido ao atual panorama econômico do país, dizem especialistas da área.

— O principal motivo é a crise no país. As pessoas que estão menos qualificadas são as que mais trocam de emprego, neste caso. E, muitas vezes, buscam oportunidades até fora de suas áreas para não ficarem desempregadas — avalia Monica Miguez, gerente da Randstad no Rio.

As trocas trazem muitos desafios. Por outro lado, o brasileiro já conta com vantagens para lidar com isso.

— Justamente porque o país passa sempre por mudanças econômicas e políticas, ele está mais acostumado ao dever de se adaptar rapidamente — avalia Mariá Giuliese, diretora-executiva da Lens e Minarelli, voltada para o atendimento em transição de carreiras.

A gestora de carreiras Andrea Deis, porém, alerta para cuidados que devem ser tomados no campo emocional:

— Trabalho a flexibilidade psicológica com meus clientes. Pois, se a pessoa foi contratada, tecnicamente, ela está pronta. Mas é tudo novo. Ela deixa laços, amigos. É uma dificuldade grande nos campos da receptividade e do sentimento de pertencimento. Somos uma nação de sobreviventes, que aceita mudanças. Mas não quer dizer que não soframos com isso.

As dificuldades a que o trabalhador é submetido também dependem da mudança profissional que é encarada:

— Quando a pessoa troca de empresa, muda tudo: a cultura, a chefia, os subordinados. Mesmo que a atividade seja conhecida, é tudo novo. Haverá resistências, julgamentos. Já quando a pessoa muda de função, o novo são as metas. Se for dentro de uma mesma área, o que tem que ser feito já é conhecido. Se for em outra, complica, pois serão novos chefes, pares e colaboradores também. Somente a cultura da empresa já é conhecida. Nas duas alternativas, no entanto, é preciso observar o ambiente, antes de propôr mudanças.

Embora o tempo de observação dentro da empresa seja necessário, o estudo do novo ambiente de trabalho pode começar mesmo antes. Neste caso, se antecipar é prevenir.

— Antecipo com meu cliente o que ele vai encontrar: desde a cultura da empresa até os perfis das pessoas, além de preparar o diferencial que ele poderá apresentar. Isso ajuda a desenvolver o lado psicológico — orienta Andrea.

 

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Fonte: Extra